Eu tinha programado falar das nossas unhas. O texto estava todo na minha cabeça. Mas ficará para a próxima segunda. Ou para a próxima da próxima, porque a próxima mesmo será sobre os carros alegóricos, aproveitando o embalo carnavalesco. Não quero me comprometer com essas promessas, mas pretendo escrever sobre esses dois assuntos nas próximas segundas-feiras.
Não fosse a vontade de tornar o texto pessoal, o parágrafo anterior (e esse mesmo) é irrelevante (essa é uma palavra que me causa reflexão, não pelo seu significado, porque eu sei muito bem o que significa, mas porque as pessoas insistem em falar "relevante" quando querem dizer "irrelevante" e vice-versa, então vai uma dica: relevante = que tem importância. Mas isso é papo para outro artigo.)
Tenho lido muito sobre os meios de comunicação. Não que eu busque tal assunto, mas eles me veem ao acaso, tanto que resolvi escrever sobre isto.
Eu não vivi outras vidas (se vivi, não lembro), mas este século tem sido de muita comunicação. Tantas pessoas querendo falar conosco: físicas e jurídicas. Via "outdoor", telefone, internet, olho por olho, dente por dente (perdão pelo trocadilho)... São extasiantes os meios e as formas. Existem subgrupos dos subgrupos dos grupos. Por exemplo: no Facebook existem mensagens privativas e públicas. E tem até a "cutucada". O ser humano, em geral, tende a escolher o caminho mais fácil. O que me faz ver várias pessoas "curtindo" fotos e comentários.
Twitter, Orkut, Formspring, Facebook etc. É a prova de que a vida tem ficado mais prática, mais fast. "Se você me disser que esses meios lhe permitem manter contato com pessoas distantes. Eu lhes digo que o e-mail e o Skype também cumprem esse papel, com a vantagem adicional de não obrigar ninguém a estabelecer uma interface com a mente de Mark Zuckerberg (criador do Facebook) - mas sabe como é, fazer o quê. Todos nós sabemos como é. Se alguém realmente quisesse escrever para essas pessoas distantes, ou ir visitá-las, simplesmente escreveria ou iria visitar. O que queremos na verdade é realizar apenas o mínimo dos mínimos, como qualquer estudante de 19 anos que preferisse fazer outra coisa, ou não fazer nada", diz Zadie Smith.
Minha crítica parece estar desvirtuando, afinal, comecei dizendo que é extasiante esta era. E realmente é. Outro dia, meu amigo não foi convidado para ir a um aniversário porque não conseguiu ser contatado. É claro que é mentira, essa historinha não cola mais hoje em dia. Conseguimos saber onde todos estão, onde todos estiveram. O que é até um problema, para alguns.
Eu fico imaginando como deve ser para uma pessoa reservada, que seja um mistério para o mundo, e principalmente para si mesma. Não há dúvida que a ideia de pessoa está mudando, e talvez já tenha mudado. Sugiro que você observe, com uma certa distância, sua interface: de repente, não começa ficar meio ridículo que sua vida esteja nesse formato?
Marion Minerbo define assim: "A sociedade do espetáculo oferece novas formas de testar limites criando ‘ritos de passagens’ que estamos começando a conhecer. A autoexposição adolescente nos deixa perplexos porque a transgressão, que sempre foi feita às escondidas, se tornou espetacular." E ainda: "Tudo vai virando espetáculo. Paradoxalmente, até a intimidade." Sem contar dos álbuns: "Se não tiver foto, não aconteceu".
Eu admiro esses meios como forma de comunicação. É o jeito que pequenas bandas, empresas, artistas, escritores etc. encontraram para se mostrar ao mundo. Isso é louvável. Mas o problema é o valor que damos à nossa interface.
Como tudo que vicia: foi fácil entrar, mas algum dias destes vou me excluir.
Por outro ângulo, eu vejo que esses "meios rápidos de comunicação" valorizam as então caducas cartas, telegramas, telefonemas, visitas e e-mails (já?). Essas são como a fermentação do vinho, quanto mais o tempo passa, mais saboroso ele fica. As pessoas que recebem algum recado por esses últimos meios sentem-se presenteadas apenas pela forma, quiçá pelo conteúdo. No Natal, fiz questão de proporcionar uma certa alegria para uns amigos. E eles ficaram felizes só por receberem a carta pelo correio. Não é engraçado?
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"Talvez nossas vidas fiquem parecidas com o Facebook: falsamente alegre e amistosa, voltada para a autopromoção e engenhosamente dissimulada."Viva a intimidade! Salve o "olho por olho, dente por dente"! Salve nossos defeitos!
Desconecte-se. Menos do nosso blog.
Blog: êta forma boa de comunicação!
AMEM.
por João.
- revisado por Tom Simões.
delicioso de ler. Perdi a noção do tempo, mergulhei! Adorei, excelente!
ResponderExcluirFantástico John! E eu concordo plenamente: nada melhor do que uma carta "demodê"..Parabéns!
ResponderExcluirManu Legramanti
Meninas, muito obrigado. Continuem lendo, e não só o blog, nem só o Facebook.
ResponderExcluirAdorei o texto! Principalmente a ideia de se desconectar(e a sua cartinha de natal!)
ResponderExcluirBeijos meu amigo! Continue escrevendo assim, adoro ler seus textos.