sábado, 26 de fevereiro de 2011

Comédia romântica

Senta aqui, por que você está tão pálido? Não muda de assunto, não desvia. Onde eu parei? Ah, sim, eu falava sobre as comédias românticas. Odeio o modo como elas são previsíveis. Chega a ser patético. Mas não vou mentir: eu gosto. Já vi uma porção delas. Não sei explicar exatamente o porquê, talvez seja para me distrair da vida real entediante, mesmo que por duas horas. Mas não boceja, porra. O que eu quero dizer é que as personagens principais desses filmes são, no começo, sozinhas e infelizes. Quando menos esperam, conhecem alguém especial, passam por situações divertidas e inusitadas, se apaixonam, vivem um intenso amor, quase deixam tudo desmoronar, vêem suas vidas mudarem completamente e, por fim, resolvem tudo e vivem felizes para sempre ao lado de seu verdadeiro amor. E você é exatamente como essas personagens, tirando a parte que conhece alguém especial, passa por situações divertidas e inusitadas, se apaixona, vive um intenso amor, quase deixa tudo desmoronar, vê sua vida mudar completamente e, por fim, resolve tudo e vive feliz para sempre ao lado de seu verdadeiro amor. Nossa, você tá muito pálido. Não desvia do assunto, porra! Onde eu estava? Ah, sim. Eu sei que a vida real nunca será minimamente parecida com as comédias românticas. E eu sei o que você está pensando. O que você sempre me diz. Que esse gênero cinematográfico é tão fantasioso quanto terror ou ficção científica. Eu sei de tudo isso, não me olha assim. Mas eu também sei o que você precisa. Você precisa de alguém que te faça ficar muito feliz ou muito triste por qualquer coisinha. Alguém que não sai da sua cabeça, não sai de jeito nenhum, não importa o que você faça. E você dorme pensando nela, e acorda pensando nela, e pensa porra sai da minha cabeça, para de mexer assim comigo, minha vida antes era muito mais fácil, logo eu, que tanto cuidei minha paz. Mas eu responderia exatamente as mesmas palavras daquela música que eu amo tanto do Toquinho, você tinha era manias demais, mas aí o amor chegou, desabou a sua paz, despediu seu desamor pra nunca mais. Pra nunca mais, ouviu? Então não me olha assim, que você precisa de uma complicaçãozinha, eu sei que você precisa. Você precisa precisar daquele sorriso, e daquele cafuné, e daqueles pés que esquentam os seus, e dos lençóis embaraçados nas pernas que você nunca sabe se são suas ou dela. E você gosta do embaraço e quando percebe isso só embaraça mais. Então me fala, me fala que quer isso! Que aí eu vou tomar sorvete com você, e correr com você na chuva, e fazer você sorrir quando ouve minha voz através do telefone. Me fala que quer isso, que eu deixo você me abraçar e beijar meu pescoço e explorar meu corpo e chorar e dormir no meu ombro. Eu deixo você dedicar seus poemas pra mim, eu deixo você cheirar meu travesseiro pra sentir meu perfume enquanto eu vou no banheiro, eu deixo você me trazer café na cama, eu deixo você discutir comigo por ciúmes bobos, eu deixo você me enviar flores sem data especial, eu deixo você me observar enquanto eu estou dormindo. Então me fala que quer, eu preciso ouvir. Que aí a gente vai comer brigadeiro de colher no domingo, vai chegar atrasado na sessão do cinema porque a gente perdeu a hora fazendo amor, vai queimar a pipoca e discutir pra ver quem vai levantar pra apagar a luz. Fala o que eu quero ouvir, aí a gente ignora o despertador e faz hora pra levantar, e aí a gente nem arruma a cama, e enche a geladeira de congelados e comida pronta. E eu rio do seu pijama, e te beijo no meio da sua frase, e adormeço escutando seu coração bater. Tá rindo por quê? Olha pra mim e me fala que não quer isso. Fala, fala. Você não está mais tão pálido, amor.

Mas não muda de assunto, porra!

Um comentário: