segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Metalinguística: trivialidade necessária.

A crônica é uma expressão moderna que eu encaro como algo que surge da falta de ter o que falar. Mas observe bem: "não ter o que falar" não é o mesmo que "não saber o que falar"; há aí uma linha tênue que separa os dois conceitos. a crônica pertence ao segundo.

Esse tipo de texto é como uma conversa de boteco. Deve ter uma linguagem direta (talvez por isso existam poucas mulheres no ramo), com um pitada de humor e quando puder poética. Parecido com uma conversa entre amigos. Sem muita metafóra e bibliografia. Deve ser empírico.

É quase um passa-tempo. Uma leitura rápida para, a príncipio, o leitor se alienar ao mundo e, ao final, reflete sobre a mensagem que acabou de ler. Parecido com um soco no estômago, ou melhor, no pensamento. Portanto, é algo trivial e necessário.

Nelson Rodrigues foi mandado para Europa como correspondente de um jornal. Ele deveria cobrir a Copa. Num dia que não houve jogos ele não tinha o que escrever e ficou andando pelo quarto de hotel pensando no que poderia dizer. Parado, olhando pela janela, ele viu, lá em baixo, que uma lixeira pegava fogo e pertinho dela uma gaiola com um passarinho batendo asas apavorado. Bingo! Deu crônica! Naquele dia, a manchete da matéria era: "Incêndio ameaça Fauna em Madrid".

A crônica deve ter passarinhos! Muitas pessoas, não satisfeitas com a boa história que acabam de ler, querem saber se aquilo aconteceu mesmo, se é verdade. Isso é o que menos importa. Importa-me "mentiras sinceras", isso sim. Já dizia Nietzsche: "Amo as pessoas que não precisam olhar atrás das estrelas para serem felizes."!

Vejo nesse "subgrupo" da literatura uma certa semelhança com o samba cantado pelo Fundo de Quintal, A Batucada dos Nossos Tantãs:

"Samba, eterno delírio do compositor
Que nasce da alma, sem pele, sem cor
Com simplicidade, não sendo vulgar
Fazendo da nossa alegria, seu habitat natural
O samba floresce do fundo do nosso quintal".

Neste blog mesmo existem vários tipos de crônicas. Cada pessoa que escreve aqui tem um estilo de "cronicar". Uma cria história, outra descreve algo da vida cotidiana, uma, ainda, transpõem algumas experiência vividas camufladas com uma histórinha ficticía (ou não), outra que fala sobre seus pensamentos e outra, ainda, que se enquandra em tudo/nada.

O que importa é não olharmos muito atrás das estrelas. Observamos apenas como reagimos ao que acabamos de ler. Se for uma emoção gostosa voltaremos a ler tal escritor, senão, não.

Sabendo o que gostamos de ler, aprenderemos a nos conhecer e teremos referência de opiniões. É como se descobrissemos um caminho por onde nos identificamos e, logo, podemos dizer que somos ele. Parafraseando: diga-me o que lês que eu te direis quem tu és.

Duvide do óbvio!

 "A literatua sempre foi a salvação do condenados; a literatura, a literatura inspirou e orientou os apaixonados, derrotou o desespero, e talvez possa, nesse caso, salvar o mundo." John Cheever.

AMEM.


por: João.

Um comentário:

  1. " Mas observe bem: "não ter o que falar" não é o mesmo que "não saber o que falar" "
    Muito inteligente meu amigo! adorei!

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