Ana era uma garota de apenas nove anos. Ela era formidável. Não criava problemas para os pais nem a ninguém, apenas para ela. Um belo dia, como de costume, foi à praça perto da praia, onde costumava brincar com seus amigos. Seus pais recostados sempre nos mesmos bancos lendo seus jornais e fumando, não davam importância a menina.
Ana dava voltas, de bicicleta, sem fim pela ilhota no centro da praça. Até que distraidamente passa por cima de uma pequena pedra e tomba para o lado, caindo e raspando seu joelho no chão. Algumas lágrimas quiseram sair para acalentá-la, porque seus pais nem perceberam o que estava acontecendo. Ela levantou-se, recolheu-se do chão e cambaleando foi até o centro da praça. Ela estava um pouco zonza com a queda, coçou um dos olhos com o peito da mão e olhando para frente percebeu como o fim de tarde estava tão bonito. Seus pés conseguiam transmitir-lhe a úmida terra que sustentava a grande árvore ao seu lado, enraizada como Ana estava agora por ver o gigantesco sol.
Aquele horizonte a fazia pensar. Via as pessoas passarem pela rua e tropeçarem em seus próprios pés. Corriam de lá para cá. Não eram mais crianças para poder andar. O que aguardava em um futuro próximo para ela. Mesmo tão nova ela gostaria de ganhar dinheiro para sustentar suas bonecas. Todos os dias depois da escola ela limpava a casa para poder ganhar da mãe cinco reais para comprar o que quisesse. Gastava sempre em roupas e casas novas parar suas bonecas, nunca pensava no que ela precisava. Mas ela via uma pedra, como a que a fez cair, em sua vida. Nada era fácil, tudo tinha sempre um problema que a machucaria.
Ela não gostaria de crescer para andar rápido como as outras pessoas. Isso a cansaria muito. Não queria ser uma pessoal normal. O normal é um ser fraco, não toca as outras pessoas. Ela queria viajar. Queria ser uma fantasia de Vinicius de Moraes, ou até de Machado de Assis. Não importava o escritor. Ela só queria existir com uma finalidade. Nascer, aprender, ensinar, ser tocada por vários instrumentos de baixos e altos tons. Viver enquanto a cultura a levasse. Ela iria finalmente ser livre. Livre? Mas porque imaginaria esta criança ser livre algum dia, sendo que é controlada pelos compassos e as notas dos lápis e borrachas de seu criador em sua fantasia, ou até pela batuta maestral que a conduz na realidade.
O navio continuava a passar. As nuvens brincavam com a imaginação da garota e as pombas eram as únicas a aplaudir, em seus vôos, a pequena fértil imaginação da vida. Ela via que o tempo não parava e que até as ondas eram controladas por forças que não eram as suas próprias. Por um momento ela chorou. Se as pessoas dessem mais importância a tudo que vêem e sentem. Um garoto passou seus dedos por volta dos olhos de Ana. Ela se assustou, mas não pelos gestos que ele estava fazendo, mas sim por ter sentido as mãos daquele garoto tão lisas que a davam prazer. Desperta do seu devaneio, Ana sorri e novamente com a sua bicicleta continua a girar em torno da pequena praça perseguindo o garoto, mas agora mais lentamente por conta de seu novo machucado.
Tudo estava normal enquanto eles estivessem juntos. A solidão só nos faz pensar.
Flopito.
Flopito, estou impressionada com seus textos. Parabens. Todos voces estao de parabens, o blog esta muito bom. Todo dia leio o que voces escrevem.
ResponderExcluirBeijos