quarta-feira, 9 de março de 2011

A-la-la-ôôô, mas que fedooooor!

O feriado termina hoje. Tem manolo que vai emendar a semana inteira, mas o oficial é que o ano começa amanhã. Meus pêsames.

Mesmo que esses dias de ócio e beberagem sejam ótimos, recebemos, em compensação, doses bárbaras de babaquice pela televisão. Aliás, não é só durante o carnaval que a produção de lixo catódico aumenta, mas em todo o verão brasileiro: é especial do Roberto Carlos, novos pilotos de séries e (acuda!) Big Brother Brasil. O carnaval é só o finzinho da orgia, quando a AmBev e a Globo fecham a conta e vão calcular quantos trilhões ganharam. Só depois da quarta-feira de cinzas é que a Faixa de Gaza e a reforma agrária podem entrar de novo na pauta do Jornal Hoje.

E, durante essa semaninha, houve o desbunde dos desvarios televisivos. Cada cor, cada bunda, cada bordão, cada bicha enrustida (= ator de novela) que surgia escoava para dentro da nossa mente e formava uma fossa preta borbulhante e demoníaca repleta de crocs e crianças-prodígio do Faustão. Ninguém percebe, mas tanto conhecimento e calçados de bom-gosto são indispensáveis no ritual de acasalamento que ocorre no trio elétrico, onde esses elementos em conjunto com as vogais repetidas tantas vezes pelos poetas do axé exterminam as sinapses dos neurônios e você não precisa falar nada nem ouvir nada para pegar a potranca mais próxima. Se não fossem essas bobagens, esses novos talentos, essas cópulas bêbadas com falta de aprofundamento filosófico, como seria possível a cultura brasileira? Se não fosse a miséria mental do agogô (o tum-tum ele adorou), como ficaria a nossa hospitalidade tão disseminada mundo afora? Se não fosse a falta de procura por um aprofundamento filosófico do nosso povo, (presta atenção agora, mané com corrente de prata) onde ficaria essa alegria brasileira, que na verdade não é nossa, mas é da televisão e queimada na nossa pele somente porque dá dinheiro? Quero ver pular Ivete Sangalo numa casa de pau-a-pique e um prato de garapa te esperando pro jantar.

Eu sei que é problema demais, que feriado não é pra pensar nessas coisas, mas não se preocupa: os comerciais de margarina tem conseguido, de forma perspicaz, nos fazer esquecer das crianças da Malásia escravizadas pela Nike.

Por hoje é só. Agora é hora de alegria, vamos sorrir e cantar. Beijos, me retweeta.

Obs.: eu sempre peço pra vocês me retweetarem, mas nunca passo o link do meu twitter. Então, se você quiser reclamar, tá com o coração aflito ou quiser me emprestar dinheiro, vem aqui ó.

5 comentários:

  1. Ah Cauli,meu problema com carnaval é a alegria excessiva do povo,chega a ser irritante.
    Além de não curtir folia!
    Pegando um pouco no pé,eu não acho que nós lembremos das crianças da Malásia nem em carnaval,nem em qualquer tempo algum! Somos consumidores das coisas,daí pode ser margarina ou o cd da Cat Power,não importa,nunca se lembra das mazelas do mundo,não é mesmo?EU acho que há mazelas mais importantes na nossa porta , eque podemos fazer algo, do que ter utopias com a África Sub-sariana ou locais do tipo!

    Bem,e carnaval é isso mesmo! Eu caí no samba como a Anna Huckman,TODOS CHORA(sic).

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  2. Aplaudi em(de) pé seu texto, Cauli. E como diria nossos dias no cursinho: "isso é um tapa na cara da sociedade."
    Um beijão,
    Manu Legramanti

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  3. É um saco saber que o Brasil tem fama exatamente por causa dessa festa toda. Ai...

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  4. MEU DEUSÃO!
    Que texto fabuloso, incrível, um tapa na cara da sociedade com luva de pelica!
    Saudades, Li.

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  5. Pro Dan:
    Mas é dessa alegria excessiva que eu falo no texto, que é totalmente cria da televisão.

    E um dos principais problemas é continuar achando que todas as mazelas longínquas da qual falei são "utopias", como você denominou. Aqui em Santos é constante a prisão de africanos que viajaram clandestinamente em navios de carga do seu país para o nosso. Quando eles não acabam chegando mortos por asfixia por terem sido transportados naqueles quartos com portas de aço enormes.

    by Cauli

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