quinta-feira, 7 de abril de 2011

O vestido azul

Deitado na grama do parque coloco as mãos debaixo de minha cabeça e espero. Vejo o céu, apenas o céu. Passo horas na sua imagem o declínio das cores que o conduz o dia à noite. O sol agora a pino observava todo o longo parque, não deixando muitas sombras debaixo das árvores.
 Com as pequenas embarcações navegando, o lago não conseguia mais contemplar o céu como eu. E com movimentos fortes e sua superfície escura, escondia, de raiva, os peixes que os pescadores tanto queriam pegar. Era como se estivesse revidando nos homens a quebra de seu ócio.
 Era verão, e sempre esperava desta estação a única flor que continuava viva depois da primavera. Ela, muito vaidosa, sempre preferia chegar ao momento em que até o sol conseguisse enxergá-la em qualquer parte do parque. Seu andar mantinha-se sempre lento, deixando o gramado ainda mais vivo. Sua pele lisa brilhava pura. Seu vestido, aquele que deixava-me atordoado, dançava junto a seu corpo. O azul que transformava qualquer céu em uma cor cinza, as flores confusas sendo controladas pelo vento, voando e voando, roubando o ar das plantas e dos transeuntes estupefatos pela sua beleza. Só o vento conseguia movê-la.
 Eu odiava aquela estação quente, mas a primavera que ela trazia deixava a copa das árvores floridas e o sol menos ardente. Sentia que ela estava cada vez mais próxima. O passo das formigas era mais barulhento que o farfalhar das plantas quando ela chegou. O sol acalentava o meu rosto enquanto ia descansar e eu ainda continuava a ver o céu, as nuvens e poder imaginar. Apenas imaginar. 

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